Psiquiatria - Perguntas respondidas
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A venlafaxina é uma boa medicação para transtornos de ansiedade.
 
Por vezes, este tipo de mediações (inibidores seletivos de recaptação de serotonina - ou "ISRS") causam sonhos vívidos e pesadelos, no início do tratamento. Estes efeitos colaterais tendem a passar com o uso, assim não seria de se esperar que piorassem, como é seu caso (a não ser que tenha havido um aumento recente da dose). Seria necessário verificar se existe algum outro problema de sono associado que poderia explicar o porquê de você estar tendo estes sonhos.
 
A venlafaxina não causa dependência, porque substâncias que causam dependência são aquelas que dão "barato" (geralmente sensação de prazer imediato) e a pessoa, ao longo do tempo, frequentemente sente necessidade de aumentar a dose e/ou a frequência de uso. A venlafaxina as pessoas conseguem parar de usar com facilidade, apenas que a dose deve ser diminuída lentamente, para a pessoa não se sentir mal.
 
A venlafaxina, em doses baixas, é um remédio que pode ser considerado "suave", com poucos efeitos colaterais e bom perfil de segurança. Existem várias opções de tratamento diferentes da venlafaxina, com eficiência semelhante, mas não existem medicações mais modernas e que sejam mais eficientes que a venlafaxina. Depende de cada pessoa e seu psiquiatra deve estar capacitado a fazer escolhas entre os diversos tratamentos.
 
Por favor, não faça nenhuma mudança em relação ao remédio sem falar com seu psiquiatra.
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Algumas pessoas têm medos exagerados de algumas situações na vida como, por exemplo, alturas, locais fechados ou, no seu caso, dirigir.
 
Dirigir realmente apresenta alguns riscos mas, para a maioria das pessoas que dirigem, isto representa uma ameaça com a qual conseguem lidar simplesmente dirigindo de modo cauteloso.
 
Quando ocorrem estes medos exagerados, fala-se em "fobias". No seu caso, é uma fobia de dirigir.
 
Muitas vezes, estas fobias aparecem no contexto de uma depressão ou transtorno de ansiedade generalizada e, nestes casos, o uso de uma medicação (geralmente, um inibidor de recaptação de serotonina) pode ajudar a melhorar o problema.
 
Entretanto, em outros casos, a fobia ocorre sem que haja sintomas de depressão ou outros sintomas de ansiedade ou também pode acontecer que a depressão e a ansiedade sejam tratadas, mas a fobia continue.
 
Nestes casos, usam-se técnicas baseadas na terapia comportamental, geralmente envolvendo exercícios em que a pessoa se acostume (ou reacostume), progressivamente, a dirigir.
 
A terapia para a fobia de dirigir pode ser feita por psiquiatras ou psicólogos experientes neste tipo de tratamento e mesmo algumas escolas de condutores possuem cursos para pessoas que têm um medo exagerado.
 
É importante que não tente controlar sua fobia com tranquilizantes benzodiazepínicos (aqueles que têm embalagem com faixa preta), pois eles não tratam o problema, podem dar problemas de memória e de incoordenação motora além de, em alguns casos, causarem dependência.
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As crises de pânico se caracterizam por sensação súbita de medo, desespero ou angústia (muitas vezes, a pessoa sente que vai morrer), acompanhados de sintomas como falta de ar, tontura, vista embaçada, tremores, suor, palpitações no peito, sensações desagradáveis na barriga, formigamento, sensação de estar andando sobre nuvens ou outros sintomas físicos.
Quando estas crises aparecem com uma frequência grande, elas são diagnosticadas como transtorno de pânico e, frequentemente, são tratadas com medicações.
As principais medicações para o tratamento do pânico são os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, dos quais o escitalopram é um exemplo.
Em casos mais graves, principalmente no início do tratamento, usam-se algumas medicações do grupo dos benzodiazepínicos como, por exemplo, o alprazolam.
A vantagem dos benzodiazepínicos é que eles trazem um alívio rápido das crises, enquanto medicações como o escitalopram podem demorar semanas para agir adequadamente. A desvantagem dos benzodiazepínicos é que podem causar problemas de coordenação motora e memória. Os problemas de memória podem ser tão mais graves quanto maior a dose e maior o tempo de uso. Em pessoas acima dos 60 anos, também, devem ser evitados, sempre que possível, pois podem causar quedas. Os benzodiazepínicos devem ser evitados, sempre que possível e, quando necessários, de modo geral, devem ser usados por apenas algumas semanas. Apenas em casos muito graves de pânico, nos quais toda a outra gama de medicações disponíveis não tenha funcionado é que se justifica o tratamento, a longo prazo, com medicações do tipo alprazolam.
Em relação ao zolpidem, trata-se de uma medicação criada para o tratamento de quadros de insônia e, em princípio, não tem nenhuma indicação no tratamento do pânico, em si. Ele tem efeitos colaterais semelhantes aos benzodiazepínicos, incluindo problemas de memória. Assim, também, sempre que possível, deve ser evitado e se deve tratar a insônia com outras medidas como, por exemplo, a higiene do sono.
O enjoo, a tremedeira nas pernas e a dor de cabeça, se estão ocorrendo dentro das suas crises de pânico, são parte delas, pois as crises de pânico incluem vários sintomas físicos. Neste caso, deve falar com seu psiquiatra para verificar se as doses de medicação que toma estão sendo adequadas, se você já tomou por tempo suficiente para sentir seu efeito ou se elas devem ser substituídas por outras medicações.
Se os sintomas de enjoo, tremedeira e dor de cabeça estiverem ocorrendo fora das crises, podem ter muitas causas, desde uma ansiedade excessiva até causas clínicas que podem requerer a avaliação de um clínico geral.
Em relação à sua dificuldade de parar o alprazolam, é uma situação frequente: um dos aspectos negativos das medicações da família do alprazolam (veja meus comentários acima) é que é difícil de parar de tomá-las, em muitos casos. Este problema tem duas soluções:
1 - primeiramente, é necessário que suas crises de pânico estejam totalmente ou quase totalmente controladas através de um tratamento adequado com outro tipo de medicação como, por exemplo, o próprio escitalopram;
2 - quando você estiver controlado(a) ou quase controlado(a) das crises de pânico, o alprazolam pode ser diminuído bem lentamente, pelo médico; a velocidade de diminuição deve ser a máxima que o(a) paciente suporte com frequente; por vezes, a gente demora meses para conseguir retirar a medicação; o importante é sempre diminuir um pouco e, uma vez que tenha sido feita a diminuição, não retornar à dose anterior - é melhor retirar bem devagarinho e sempre.
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Um relato de ver imagens que dão ordens pode ser consequência de uma série de problemas:
 
1) quadros psicóticos, nos quais a pessoa perde o vínculo com a realidade e passa a ver e ouvir coisas que não estão presentes;
 
2) quadros de crises epilépticas, onde alterações cerebrais levam às mais diversas alterações psíquicas, que ocorrem de modo espontâneo e são, em geral, autolimitadas, durando poucos minutos;
 
3) fantasias; por vezes, em crianças, fantasias podem tornar-se muito fortes e serem descritas como se fossem reais; isto é mais comum em crianças pequenas e não em pré-adolescentes;
 
4) evitação da escola: às vezes, para evitar a escola, crianças inventam uma série de mal-estares relacionados à escola.
 
Os dados que você forneceu são muito poucos e as explicações acima podem não cobrir todas as possibilidades. É essencial consultar um psiquiatra que tenha experiência com crianças.
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Os diagnósticos de transtornos de personalidade (por exemplo, transtornos de conduta, em crianças ou transtorno borderline) são com frequência de diagnóstico difícil, pois as pessoas que têm estes distúrbios frequentemente não dão respostas claras ou confiáveis sobre seus problemas. Frequentemente há necessidade de se consultar a pessoa várias vezes e falar com familiares para se ter certeza.
 
Além disto, comportamentos borderline, por vezes, podem estar presentes em pessoas que estejam desenvolvendo um transtorno bipolar ou que já sejam bipolares, porém com sintomas de reconhecimento mais difícil.
 
Assim, mesmo com profissionais cuidadosos, por vezes o diagnóstico inicial é apenas uma suspeita bem fundamentada e não uma certeza.
 
Apesar de que, no Brasil, é permitido a qualquer médico tratar qualquer doença, mantidas as exceções, neurologistas não estão aptos a tratar de problemas psiquiátricos como a personalidade borderline.
 
Quanto ao transtorno de conduta, trata-se de um comportamento de violação de regras e comportamento frequentemente agressivo que causam prejuízos mais ou menos graves a pessoas ou animais. É, praticamente, o correspondente infantil do transtorno de personalidade antissocial do adulto (comumente chamado de "psicopata" ou "sociopata").
 
Assim, em princípio, se tem alguma dúvida quanto ao diagnóstico, o mais indicado seria voltar à psiquiatra e pedir mais explicações ou consultar um outro psiquiatra. Infelizmente, também, médicos de convênios podem ter tempo e número de retornos insuficiente para agilizarem um diagnóstico difícil e, com isto, os pacientes saem prejudicados. Mas, insista: é um direito seu ter a duração de consulta suficiente e ter o número de consultas suficiente para fazer um bom diagnóstico e um bom tratamento.